Páginas

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Rifas "obrigatórias"?


Por Luis Alfredo da Silva, diretor vespertino do Grêmio Estudantil J.R.

Não se assuste com o título deste post. Sim, a intenção dele (do título, não do post) é hiperbólica em relação ao assunto que aqui trato. Que são, naturalmente, rifas. Mas não necessariamente obrigatórias como o título indica, por mais que, indiretamente, possam ser. Continue lendo para entender.

Nossa escola recebe com relativa frequência visitas de “escolas profissionalizantes”, entidades que cobram por cursos, de informática, idiomas ou secretariado, por exemplo. Escolas essas que visam “instruir os alunos a estudar em suas entidades”, ou seja, fazer propaganda. Mas isso claro, não ocorre exatamente “de graça”.

As três últimas “escolas profissionalizantes” a anunciar em nossa escola tiveram que dar “brindes” à ela. Os quais foram um micro-ondas (maldita reforma ortográfica!), um DVD player e um MP4 Player. O micro-ondas e, principalmente, o DVD Player poderiam ser bastante úteis para uso da própria escola. O MP4 Player nem tanto. Não obstante, todos os “brindes” tiveram (ou melhor, ao momento da publicação deste post, ainda terão) o mesmo destino. Sorteio, através de uma rifa.

Não cabe discutir aqui a finalidade dos produtos que a escola “ganhou”. O vedadeiro problema não é esse. E é aí que chegamos ao real assunto deste post: a forma como o sorteio, ou melhor, a venda de números para tal, é feita.

É por uma rifa (acho que isto já estava claro, mas não vejo problema em reforçar). A qual seria uma rifa comum, não fosse um mero detalhe: Fora entregue, ao menos em minha sala, para todos os alunos presentes naquele momento. Sem qualquer pergunta do tipo “Você vende?” a cada aluno. Simplesmente chamando-os e entregando uma cartela, numerada conforme a chamada. Isso não seria um problema não fosse o fato que existem pessoas que não vendem rifas. Eu incluso.

Em outra sala, encotrei relatos de supostas, digamos, “chantagens” para com os poucos alunos que resistiram à rifa. Coisas como “Não vende, não poderá usar o telefone da escola caso necessário”, e afins.

E tudo isso é um absurdo. Afinal, já entrando em uma questão um pouco mais complexa, existem impostos, pagos por nós e/ou nossos pais, os quais servem para, dentre outras coisas, a manutenção de escolas públicas. Se o Governo não os repassa corretamente à nossa escola, o que deveríamos fazer é pressioná-lo, não tentar arrecadar dinheiro por conta própria. Por outro lado, é um tanto complicado fazer esse tipo de pressão e, principalmente, ser ouvido, de forma que muitos podem achar que arrecadações através de rifas acabe sendo a única opção. Única opção essa que acaba por afastar mais ainda o Governo, de qualquer forma.

Mas o problema não está na rifa propriamente dita (que isso fique bem claro). O problema é mais embaixo, está na forma como a rifa é vendida.

Existem pessoas que não vêem problemas em colaborar com a escola vendendo e/ou comprando números. Mas é importante saber que estas não são todas as pessoas. E isso é diferente do que a Direção da escola aparentemente pensa, que todos compram e vendem rifas. Ao perceber que não é bem assim, acabou tendo que “chantagear”. E isso não é certo, evidentemente, por, pelo menos, os motivos já citados.

E a indução da rifa traz ainda diversos outros problemas, especialmente frutos de más intenções:

Primeiro, é quase perfeitamente possível alguém vender a rifa e não entregá-la acusando perda. Mas este é um problema conhecido, e, ao que parece, alunos que “perderem” suas cartelas têm de pagá-la, comprando seus números. Evita prejuízo à escola, mas não aos verdadeiros compradores, caso existam (e existe esta possibilidade).

Segundo, e mais grave, muito mais grave: as cartelas, tais como foram feitas, são reproduzíveis. É muito fácil para qualquer um com conhecimentos em edição de imagens (com medição de tamanho em DPI), um scanner e uma impressora decentes, folhas A4 comuns (e um bocado de falta de caráter, é verdade), produzir cópias da própria cartela, alterar a numeração e vendê-las, deixando a original, possivelmente, em branco.

Tudo isto mostra que rifas devem, além de ser oferecidas para venda apenas aos realmente interessados (e não à todos), ter uso de, pelo menos, papel diferenciado em suas cartelas. O que não ocorre em nenhuma das rifas que nunca vendi.

2 comentários:

  1. Bom texto. Divertido. O problema da rifa, acredito, não é só simples fato de tê-la que vender, mas sim o objetivo pelo qual ela existe. Como citou em seu texto:

    "...existem impostos, pagos por nós e/ou nossos pais, os quais servem para, dentre outras coisas, a manutenção de escolas públicas. Se o Governo não os repassa corretamente à nossa escola, o que deveríamos fazer é pressioná-lo, não tentar arrecadar dinheiro por conta própria."

    Como direção do grêmio é importante que vocês discutam com os estudantes que é esse o motivo da existência da rifa. Devem dizer aos estudantes que devemos boicotar a Rifa. Caso a diretora reclame, bom, convidamos ela para entregar um abaixo assinado entre alunos professores e a direção para a secretária da educação dizendo que precisamos de dinheiro para a escola. Também dizemos a ela que as ameças podem ser denunciadas para impressa junto com todos os problemas da escola.

    O grêmio é o sindicato dos estudantes. Ele defender os interesses dos estudantes. E na questão da Rifa, o que está em jogo é a defesa da educação pública gratuita- que fica cada dia mais distante devido a todas as ações que buscam fazer-nos pagar por ela.

    Bom é isso. Estou a disposição.

    ResponderExcluir
  2. Gostei do post.
    Mas o problema não é vender ou não vender a rifa. O problema é a existência da rifa. Se partimos do ponto de que não há problema em vender a rifa, para a direção da escola arrecadar dinheiro e manter precariamente a estrutura, estamos aceitando que o Estado se exime de sua responsabilidade para com a educação enquanto despeja para os banqueiros e empresários 300 Bilhões só em 2009.
    Este exemplo claro que o post expôs é apenas um de vários outros que fazem com que a população, em especial os jovens, os mais interessados em seu futuro, tenham cada vez mais que arcar seu próprio estudo, enquanto que seus impostos, que são para ser utilizados em prol da sociedade, muito bem colocado pelo autor, são utilizados para fins não públicos, não da população.
    Como representante desta parte da população os diretores do grêmio desempenham um papel crucial no combate contra o descaso do poder público e contra a privatização do ensino, expondo a realidade aos estudantes e fazendo mobilizações que mostrem a direção a outros tantos jovens a se organizarem em seus Grêmios ou a funda-los.

    ResponderExcluir